terça-feira, 25 de outubro de 2011

A política no Siará Grande


Antigamente, assim como hoje, ser solícito em favores ao presidente de uma província poderia render enormes ganhos financeiros, se o mesmo não fosse um sugador de sangue da pior monta.

Um presidente, mesmo que em franca decadência, sempre carrega o peso do título, mesmo em terras pra lá de inóspitas.

Chegou para governar o Ceará um português naturalizado, que trouxe toda a sua família composta de esposa, filho e uma filha. Foi albergado pelo seu correligionário político, que por conta da quase total falência nos negócios da bolsa do senhor presidente, teve que manter o luxo e as vicissitudes da aristocrática família, que ora chegava para governar a província.

Como íamos dizendo, o presidente nessas condições, mal das pernas e da saúde, torna-se para os amigos, que o acolhem, um fardo grandessíssimo; ainda mais, quando em todas as 'rodas', o que se comentam são as grandes festas protagonizadas pela sua esposa - perfeita alcoviteira do amor, diga-se de passagem, pois era comum ver-se em companhia de todos, menos do marido, o Senhor Presidente, que de saúde abalada, recolhia-se à sua cama, dormindo o sono dos justos, enquanto sua esposa dormia o sono das vontades satisfeitas.

Para ele aquela estadia, como administrador geral, só serviria para arregimentar moedas para sua bolsa. Os grandes políticos, como que bons alunos, aprenderam bem as artimanhas de uma vida de regalias em favor de títulos, assim como outrora um conde, um barão, ou coisa que o valha; toda a transgressão de valores morais que existe nas gentalhas e que não existiam nos nobres que habitavam as côrtes dos distintos reinos de vossa majestade além-mar.

O nosso presidente trazia isso no sangue. Abrigava sob a pele e as roupas presidenciais, todas as fraquezas de uma classe que não se envergonha de ombrear-se a algum correligionário político, para, ao peso do título, adentrar, não em seu palacete, como manda a formalidade, mas às casas de amigos para beber, comer e fazer festas com a despensa dos outros.

Em não tendo o menor sinal de remorso, obriga o anfitrião além de festas, viagens para conhecer outros redutos políticos, sempre com uma caravana repleta de aduladores. Faz-se construir coisas excepcionais. Transforma-se, da noite para o dia, sobrados em palacetes. Se há sempre alguém disposto para abrir sua bolsa, podendo assim angariar favores para a câmara, porque não aceitar os vinténs que se lhe oferecem de maior agrado? A cultura política de um povo é a porta-voz das suas próprias condutas. Assim que o novo presidente do Ceará pisou em terras Alencarinas, encontrou o lugar perfeito para poder praticar, livremente, tudo aquilo que se fazia presente em sua natureza. Todas as facilidades encontradas foram-lhe senão algo de muito tranquilo e normal.

1 comentários:

Henrico Perseu Benício disse...

Excelente! Lembra bem a chegada da família real ao Brasil, mormente no que se refere ao inconveniente de abrigar o Presidente e a troca de favores (leia-se dinheiro) por títulos nobiliárquicos. Por outro lado, o texto resgata o caráter provincial ainda existente na sociedade (alencarina) nos dias de hoje. Abraço.

 
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