Aqui não há nenhuma palavra de sabedoria para a posteridade. Nenhum exemplo a ser seguido que alimente esperanças vãs de espíritos ansiosos por caminhos virtuosos. São apenas desejos ardentes de manhãs menos doloridas. Um amanhecer alegre aos meus olhos.
É que todos os dias eu choro diante do espelho. Uma afirmação perigosa que confronta o velho e conhecido ditado que afirma que homens não choram. Mas se os homens não choram tão pouco as mulheres trabalham na Construção Civil. Ou seja, apenas velhas máximas, decrépitas, anacrônicas, destinadas a desaparecer da nossa sociedade. Negar aos homens o prazer de chorar a dor ou alegria da vida lhe é bastante cruel.
É apenas a visão o horror, nada mais. E nessas circunstâncias, desesperadoras, agonizantes, sufocantes, derramar lágrimas é o alívio obvio para a dor. E porque não seria euforia ou alegria? Não há alegria no sentir-se prisioneiro. Isso quaisquer sabem... e até podem sentir.
Portanto, nessas lágrimas matinais só vejo tristeza. Sem pedir escusas de minha condição de Homem, escrevo meu tormento de todos os dias. Mas de forma heróica tomei a decisão de não chorar mais! Não convém prolongar tamanho suplício. Quem nesse momento meus olhos vislumbrassem, não condenaria qualquer ato desmedido. Então, fá-lo-ei. Sem reservas e sem arrependimentos. Amanhã, quem me encontrar, verá uma indisfarçada e sublime alegria nas faces lívidas.
Já aviso, para quem me tomar por fraco, covarde ou indigno de viver, digo-lhes, apenas, que suportei bravamente por longos dois meses. Não agüento mais.
Portanto, adeus! Adeus pra sempre malditas lentes de contato. Deixem, de agora em diante, que meus olhos respirem sem que haja entre nós, tão próximo, um côncavo e obtuso intruso. Sem que haja inundações constantes e inoportunas, de lubrificantes oftálmicos. Um novo amanhecer nos aguarda. Fora! Que o pavor escoe ralo adentro.
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