Nada mais tranqüilo, abaixo do escaldante sol do nordeste, que um trabalhador trotando sua carroça em direção ao cimo da rua de barro, de uma comunidade tranqüila do interior. No caminho, ele encontrará dezenas de conhecidos, puxará conversa com todos que tiverem um tempinho a mais para gastar com ele.
Após os causos contados, a carroça segue vacilante com rodas desengonçadas, resultado de caminhos não raro acidentados. Uma morosidade que dita o ritmo da região e de seus habitantes.
As carroças há muito desapareceram da paisagem urbana de Fortaleza. Afora alguns depósitos que perversamente utilizam-se de animais cada vez mais jovens para carregar cada vez mais peso, é raríssima aquela que cruza as estradas asfaltadas – nem tanto assim – de nossa cidade. Sem percebermos, trocamos por ensurdecedores barulhos de motores de carros, os galopes agradáveis de um burrico ou jegue galopando vagaroso por frente às nossas casas.
Mas a saudade encarrega-se de levar à lembrança os signos de nossa amada terra. E a carroça, tão desaparecida no cotidiano do homem urbano, reapareceu no imaginário do nordestino. E ressurgiu no mesmo ritmo de nossa vida: desembestada. Bem diferente do modo como a lembramos. Mas reapareceu. E reapareceu no futebol, essa paixão dos brasileiros, capaz de agregar católicos, evangélicos e umbandistas; negros, pardos e os que se consideram brancos; heterossexuais, homoafetivos e o pessoal LGBTH (H de heterossexuais); ambientalistas e ruralistas; Pt, Psdb e Psol, enfim, tudo que esteja em campos opostos.
Saudaremos a carroça 'desembestada', desgovernada ou sem rumo? Quão nada! Por ironia, ou por nosso deboche característico, a carroça avança com arreios firmes. No comando mãos fortes e calejadas. Mãos de todos os cearenses, que por tudo e contra tudo, avança sua carroça com as rodas um pouco ainda empenadas, é verdade, mas não tanto pelas estradas horríveis de nossa terra, mas por levar em sua carroceria tão pesados preconceitos desse Brasil.
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