sexta-feira, 18 de março de 2011

Os escolhidos

Por que a classe média reclama tanto da transferência de renda para os mais pobres? Os ricos, esses não perdem tempo reclamando que o Tesouro dê 140 reais para uma família que não tem renda. Para eles, é ninharia. Mas a classe média, não: esbraveja, chama de assistencialismo, de sustentar vagabundos, que agora é que não vão querer mais trabalhar.

Na verdade, no fundo dessas afirmações, esconde-se o fato de que a classe média queria ser os distribuidores da riqueza do país. O pensamento seguiria essa lógica: o Governo faria investimentos em infra-estrutura, liberaria créditos para os pequenos empresários, daria toda a assistência (olha o verdadeiro assistencialismo que eles queriam!) para as pequenas e médias empresas desenvolverem-se, para depois, de tudo caminhando bem, eles pudessem distribuir essa riqueza, aumentando a oferta de empregos.

E o que Governo fez? O País viu que a fome não poderia esperar. Conhecendo bem sua classe média, seus defeitos e suas aspirações egoístas, não esperou que esse papel de distribuir as riquezas começasse somente após ela se tornassem os novos-ricos do país. Decidiu agir logo. E foi com a sensação de ser preterida pelos mais pobres que nasceu esse complexo de 'filho do meio' (os filhos do meio estão sempre com problemas de existência, entre os primogênitos e os filhos mais novos: respeitam os mais velhos, mas indignam-se com a super atenção aos mais novos).

E o que notamos, nos editorias dos principais jornais, é a ressonância desse complexo, quando leio, por exemplo, que o aquecimento da economia, sem planejamento, fez com que a demanda interna ficasse além do que o País poderia prover, fazendo com que o importássemos produtos para atender essa demanda, cada vez mais crescente. O resultado dessa aventura 'populista' é a balança comercial cada vez mais perto do déficit (importações maiores que exportações). O desejo de ser o primeiro em atenção manifesta-se mais uma vez aqui: primeiro 'nós' deveríamos crescer, só para depois distribuirmos a riqueza, controlando oferta e demanda.

Se os mais pobres de nosso país esperassem a boa vontade da classe média para conseguir ficar com uma parte da riqueza da nação, muitos morreriam de fome nesse longo esperar. Não há porque achar que ela deveria ser a 'escolhida' do Tesouro Nacional. Até porque não resolveria de imediato a vergonha de ter brasileiro que não se alimentam.

Na minha concepção, vejo que a transferência de renda aos mais humildes, e a agenda para um maciço investimento em infra-estrutura, que confio, dará um grande salto no novo governo, resolverá o complexo de 'filho do meio' da nossa classe média.

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