Ao dobrar numa rua escura, Murilo, andando distraído e despreocupado, topa em um objeto que se assemelha a um rolo de cartas. Apanha-as e constata que são várias cartas escritas num papel simples, que já se fazem amareladas pelo tempo e pela lama da rua. Vira-as de um lado para o outro, atrás de um endereço para que possa identificá-las; mas, o que vê, causa-o pavor, levando-o a jogar as cartas no chão; e devagar, recua até alcançar a rua por onde andava antes de entrar nessa outra.
Chegando a um bar próximo dali, pediu uma cerveja e ficou, de quando em quando, olhando para a entrada daquela rua sinistra e pavorosa, com o receio de que alguém de repente saísse dali, e caminhasse em direção a ele com aquelas cartas na mão. Virou-se para o outro lado, e ficou olhando dois homens que estavam conversando muito próximos um do outro; parecia que o olhavam e depois tornavam a cochichar algo sobre ele.
- O tempo está estranho, pensou Murilo - Não consigo acreditar no que acabou de acontecer. Aquelas cartas eram para mim!
Realmente as cartas eram para ele e estavam datadas no ano em que nasceu, há cerca de vinte anos atrás. Depois de pagar a conta, Murilo encaminhou-se para seu destino, porém, evitou passar por aquela rua que acontecera tamanho absurdo. Nem cogitava imaginar o porquê daquilo tudo; pior, nem despertava a curiosidade natural que nos acomete nesses casos: tudo que ele queria era correr dali!
Saber? Para quê? Antigamente, naquela rua, funcionava um famoso bordel. Quantas mulheres maravilhosas haviam ali!, era o que todos falavam. Murilo passou por ali e nunca mais voltou.
0 comentários:
Postar um comentário