quarta-feira, 6 de março de 2013

E Chávez calou-se

Em 2007, recém ingresso na faculdade de jornalismo, escrevi um texto sobre o dia em que o Rei de Espanha mandou Hugo Chávez se calar. O acontecimento foi muito repercutido na época pela impressa de todo o mundo. Logo após o golpe de 2002, que tentou lhe tirar da presidência, Chávez voltou mais forte, e sempre que teve oportunidade denunciou seus inimigos e os inimigos do povo venezuelano. Numa dessas oportunidades foi na Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo realizada em 2007. Abaixo texto que escrevi sobe o episódio.

Porque no te callas América Latina?
A repercussão do episódio do desentendimento entre o rei de Espanha, Juan Carlos, e o presidente eleito da Venezuela, Hugo Chávez, ainda ecoa nos jornais espanhóis como uma enfática e brilhante afronta do Rei, ao líder mais odiado da América Latina. Nossos jornalistas não se cansam de aplaudir, e na sua euforia dão vivas à Juan Carlos com um saudosismo anacrônico e sem sentido. Viram a capa da Veja desse mês? Nada menos que o rei d. Pedro II.

A figura do rei nos assuntos políticos e econômicos dos países que ainda optam por uma monarquia parlamentarista é tão, ou menos importante, quanto a figura do bobo-da-corte nas antigas monarquias absolutistas da época medieval. Uma frase que poderia ser dita por qualquer briga de vizinhos na periferia de uma dessas cidades da Espanha, foi comparada a frases de grandes escritores espanhóis, dentre eles Miguel de Cervantes. Convenhamos, um rei não teria algo mais sublime, substancial e inteligente para falar ao representante eleito pelo povo venezuelano? Ou por isso mesmo, por ser um simples representante do povo, e do povo da Venezuela ainda mais, sua majestade achou por bem falar algo tão sem conteúdo e impulsivo como um “porque no te callas?”

Mas o contexto que fez com que Chávez recebesse essa reprimenda pelo rei, não foi colocada no plano da discussão. As denúncias feitas pelo presidente eleito Hugo Chávez, como sempre acontece na nossa mídia, foi desviada para o ataque pessoal da figura do presidente. Ele denunciou a participação da Espanha, na figura do seu ex-primeiro ministro José Maria Aznar, no golpe que o tirou do poder por um dia em 2002, sendo reconduzido novamente à presidência pelo povo. Onde fica o debate sobre a soberania dos países da América Latina? Será que deixaremos esse debate apenas na voz de um líder socialista com pouco recursos teóricos? Deixaremos Hugo Chávez afrontar sozinho e de peito aberto os grandes usurpadores das nossas riquezas?

 Relendo o texto, quase seis anos depois, tenho outra visão sobre o polêmico líder venezuelano. Sobre o rei Juan Carlos, foi protagonista de escândalos envolvendo desde romance fora do casamento real a caça de elefantes na África. Mas vou discorrer sobre o tema em outra oportunidade, fica o meu registro sobre o comandante Chávez, morto aos 58, vítima de câncer. Pelo menos nesse caso, foi Chávez quem se calou primeiro.

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