sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O julgamento

E então, o barulho do martelo descendo por três vezes naquele pedaço de madeira retangular fez-se imponente; uma voz grave e firme ecoou com força pela sala, chegando de fato a estabelecer um significativo silêncio.

- Queira o advogado de acusação continuar a sua linha de raciocínio – falou o juiz Metelo Nepos, já bastante irritado com a interferência de alguns mais exaltados.

- Como eu ia dizendo, antes de ser drasticamente interrompido, Meritíssimo, o réu, que no pavoneamento típico de seu caráter, na total falta de tato para com sua insignificância literária, gaba-se com escritos, que aos olhos de todo mundo não passam de escritos menores; parcos em cultura e idéias. Eu mesmo tenho contato com grandes e notáveis escritores da nossa geração, mas não vi nenhum, Meritíssimo, nenhum, que se mostrasse tão petulante e arrogante como o réu que aqui está sentado diante de nós. Desvirtuar nossos tão sagrados valores, altivos na sua histórica tradição, é o que pretende o réu quando coloca importância em sentimentos mesquinhos de sua gente e seu povo.

Escrevi esse pedaço de texto aí em cima há algum tempo, acerca de um colega. Nem percebi que talvez estivesse escrevendo para mim mesmo. Pois me reconheço hoje nesse metafórico tribunal.

As palavras tomam uma força impressionante quando você começa a compreendê-las melhor. Elas podem lhe levar ao mais puro dos seus valores escondido no íntimo, como pode também trazer de lá as misérias do espírito. 

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