A praça é um lugar de reunião dos habitantes de uma determinada localidade. Ou pelo menos, era. Parece um conceito antigo, arcaico, que está completamente fora da realidade. Mas não o é, totalmente. É um conceito bem vivo em algumas pessoas que freqüentam esse ambiente verde e amplo, de pessoas alegres, de alguns personagens curiosos e instigantes, desse vasto imaginário urbano.
Alguns vêm para procurar algo que deixaram a muito no passado. Outros procuram manter-se em forma, dando voltas repetidas em torno do agradável lago, localizado no centro da praça, ouvindo seu mp3, ou batendo um papo com seu companheiro ou companheira enquanto caminham. Jovens e velhos ocupam de forma harmoniosa esse grande espaço em meio a pequenos condomínios de luxo. Podemos notar também a religiosidade forte e presente nas senhoras que rezam defronte a imagem colocada em um pequeno altar de pedra, numa devoção coletiva e com horário marcado para rezas, ladainhas, e exaltações ao Divino.
Seu Jansen, velho boêmio, de cabelos alvíssimos como a espuma da cerveja que bebe com os amigos, com toda a pompa de um velho nobre das noites daquela praça, revive seus momentos austeros. Um pequeno chapéu bem assentado em sua pequena cabeça, redonda e avermelhada, seu Jansen gasta verbos e elogios com os amigos contando um pouco de suas noitadas ao pé de violões e violonistas; cercado de mulheres, garrafas e outros suvenires da velha boêmia da época; e com orgulho diz "nunca peguei no batente depois que dei certo em Fortaleza. Mas até eu conseguir vencer, foi duro".
E o que dizer de Jesus? Jovem esquizofrênico, irrequieto, não consegue parar em lugar algum, para cima e para baixo, a conversar com seus demônios e anjos, sozinho, sujo, coxo, e, sobretudo, imoral, no principio engraçado, mas depois, extremamente inconveniente. Jesus está sempre acompanhado a distância por seus pais, um casal curioso, vítimas do infortúnio, segundo eles, de vingança de parentes. Seu Francisco, segundo me conta, foi um empresário muito bem sucedido nas empresas do pai, mas que foi vítima de irmãos que lhe tiraram todo o dinheiro que lhe havia; além de terrenos e outras fontes de renda. Decadente, procurou salvar seu espírito nas linhas santas da Bíblia. Muito religioso, vem logo me advertindo sem que eu o pergunte "não converso com ateus, bêbados ou drogados, já fui muito errado, tive muitas raparigas, mas hoje tenho Jesus ao meu lado", disse o velho sem se importar com a presença da sua esposa ao lado.
Os quiosques, os brinquedos para as crianças, os restaurantes desse singelo espaço público, tudo favorece para tornar o ambiente da Praça do Lago um refúgio dos solitários anônimos como seu Jansen, Jesus, as devotas que rezam nos dias aprazados, os coopistas que chegam dos bairros vizinhos, mesclando-se com os absurdos da cidade que cresce vertiginosamente ao seu redor.
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